Cartas ao Espírito Santo


Aconteceram tantas coisas, algumas eu te contei, outras você viu  de perto, outras eu nem sei ao certo como chegaram aos meus pés, me vejo confusa, cheio de fundos e cada vez que decido descer e conhecer o seu segredo eu vejo que há outros fundos dentro dos primeiros. Me vejo cercada por linhas sem direções, marcas sem destinos de fim, eu vejo bagagens que eu deixei trazerem que acreditei serem boas para o meu terreno, eu acreditei que passar o rio seria mais leve que se afogar no desespero de não entender-me mais. Eu caí no mar, várias vezes, fiquei a beber, a me ver cercada nas minhas próprias artes, eu vi e revi todos os meus andares, e doeu não pela a minha vista, mas pela forma que tudo desmoronou do barco. Ficar presa em mim mesmo era a minha prisão, eu já conhecia o que sentia e passar dali era querer que mais deles mostrassem-se pelo caminho. Não era medo, era apenas eu querendo me afogar ali no meu baú de frustrações e reviver tudo e ficar presa ao que já era preso ao meu coração. De soltadora de barcos profissional a uma abandonadora do seu maior título, de cuidar de si, pulei, me entreguei, dizer que entende a corrida dos outros e soltar essa mão na primeira prova que ela é também humana, não é ser o capitão, é ser fraco, fraco é ser sem amor, é ser sem conexão. A conexão chama a chama da esperança, e eu fui, fiquei, fiquei no fundo, bem fundo, do fundo do meu fundo, e deixei lá todos os laços e entrelaços que acreditei serem necessários para curar nadadores amadores. Se eu não podia ser, se eu não podia reconhecer, eu também não podia te ter, te deixei, tirei, tirei o meu eu, tirei a máscara que eu vesti pra te fazer feliz, no espelho eu sempre te vi feliz, mas mentir pra mim mesmo pra te fazer acreditar em si. Não quero mais, você é só uma imagem, eu te fiz, eu te projetei, eu te dei vida, mas deixo aqui no mar, preciso chegar à ilha, preciso me despedir do que nem precisa de despedidas. Preciso conhecer o sol que um dia disseram morar do lado sul da vila, dizem que ele conhece como voltar a sorrir com os olhos, e é disso que os meus pés frios precisam após sair desse mar que me vi no escuro, no fundo, no profundo do sentido do sentimento vazio que eram os meus olhos escuros presos a fotografias de memórias.




Com carinho,


Escritora: Kamilla Nogueira


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