Eu não sabia quem eu era, acho que na verdade eu nunca soube de fato isso, mas me abracei em nós soltos do caminho e os chamei de lar, de meu, de ser eu. Eu não sabia quem você era, na verdade no início eu até quis conhecer, entender, ter, mas ali naquele universo eu não te via, não te reconhecia, não, não, você não era o mesmo que eu lia. Eu desconhecia a vida, não sei o que era aquilo que eu vivia, mas não era uma vida, não, não, não era, nunca foi, eu nunca conheci a vida, a vida de verdade com a graça do viver. Eu desconhecia que eu não estava mais viva, eu mentia, mentia para mim mesmo, para não aceitar aquela realidade que eu vivia, não, não, não, eu não merecia, eu fingia, eu esquecia, sim, sim, eu criava o meu universo e ele era azul e não cinza. Eu não sabia mais quem eu era, e eu sabia, eu reconhecia que eu não estava mais ali, em mim, na vida, e você apareceu, eu lembro perfeitamente bem desse dia, eu estava sentada na cama, olhando a janela, você chegou, sorriu e sentou-se ao meu lado. Eu sorri de volta, porque a sensação que eu tive foi de que já nos conhecíamos, eu me vi nos seus olhos, eu vi, eu me vi em várias épocas, fases, ciclos, eu nos vi, ali nos seus olhos. Era você, sempre foi você ali comigo, eu chorei, você chorou, nos abraçamos, ali surgia algo, além, além do meu imaginável, ali nascia nós, o Amós, o nosso amor, agora conectado face a face também.
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