Hoje eu não acordei bem e tem dias que eu não consigo dormir direito, porque eu sinto que a minha cabeça não está desligada, sabe. E eu continuo vendo tudo, a culpa rindo, as inseguranças conversando alto, os meus medos na esquina, as minhas feridas andando em círculo e tudo que eu quero esconder, não ver, “ desver”, estão lá, lá na minha cabeça ligados o tempo inteiro. E eu digo lá, mas é aqui também, aqui no mundo físico, me ferindo, me deixando desconfortável, me trazendo agonia, me deixando ansiosa, inquieta, confusa, sem conseguir fazer nada direito. E eu quero chorar, gritar, rasgar a minha garganta de dor, pra ver se aqui dentro, a da alma, se cala e desaparece. Eu sei, eu sei, eu sei, mas não é normal tudo isso, nesse ritmo, nessa frequência, nessa batida que sufoca a minha respiração, não, não, não é real, não era pra ser real. E eu estou irreconhecível, quanto tempo já tem tudo isso? Por que eu não lembro dos outros dias, meses e anos? Por que eu só acordei agora de frente pro fim da linha? Por que eu consigo ficar anestesiada em meio a toda essa história e não reagir, não conseguir sair? Por que eu ainda estou aqui no meio deles e sendo ferida dia após dia? Por que eu estou fazendo isso comigo? Ouvindo eles, ouvindo esses recortes falsos, em falso, ouvindo essas histórias distorcidas de mim, sujas, falsas, ruins e que eles dançam e batem palmas dizendo que essa sim sou eu de fato. Me diz que eu ainda posso mudar esse processo? Não posso? Eu ainda posso sorrir? Não posso?! Que eu ainda vou ver o sol no domingo? Não vou?! Por favor, por favor, me diz alguma coisa, porque eu não ouço mais a sua voz? Espera um pouco, por que eu estou no fundo do mar? Por que você está segurando as minhas mãos?! Eu não sei nadar, por que estamos aqui?
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